quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Falta poesia

Hoje, lendo o blog de um distinto rapaz, invejei um tanto quanto saudosista sua habilidade não só com as palavras, mas com o sentir. Com o sentir o quase-imperceptível.

Minha vida anda precisada de poesia. Eu ando precisada de poesia.
Parar, ler, pensar, sentir.

"Mas como?"
- A parte rasa de minha razão se pergunta, argumentando desentendida.
"É uma das épocas mais coloridas da minha vida, essa que estou vivendo!".

Engraçado é que é, mesmo.
E não deixa de precisar de poesia.
Não é que lhe falte graça. Graça ela tem.
Risos, amores, beijos, insanidade e tudo o mais.

Só falta é poesia.
Só falta olhar, até com vista errada
Pra cena certa, na cor certa, no contraste certo.
Falta achar que acerta.
Mesmo enganada.

Ser sublime, ter sal e ser simples,
A Maria não sabe.
Precisa ser calma, firme, e ir direto ao ponto.
Achar que se cabe. E ponto.

Exagerar nas exclamações e experiências, ultrapassar as interrogações e encher a vida de reticências...

Ela precisa voltar a procurar o Sol se pondo manchado no céu laranjado.
Ela precisa parar de correr.
Ela precisa prestar atenção no caminho, e no destino.
Ela precisa ter calma.
Ela precisa medir a saudade.

Engraçado que, na verdade...
Podia até errar na euforia,
Podia até morrer de saudade,
Se visse que também isso é poesia!
Pobre Maria!

domingo, 16 de setembro de 2007

Socorro!

Socorro!
Não encontro mais palavras
Nem saber, pensar, dizer
Não vai dar mais pra ouvir,
Nem contar

Socorro!
Algum versado
Mesmo que sofista
Me ensine outros verbos
Já não sinto ser, nem crer,
Já não sei de nada

Socorro!
Alguém me tira o pensamento
Que hoje me fugiram
As palavras
Por favor!
Um remanso apenas
Qualquer coisa!
Qualquer coisa
Que se explique

Tem tanto entendimento
Deve ter algum calado
Qualquer coisa
Que se explique
Tem tanto entendimento
Deve ter algum calado

Socorro!
Alguma explicação para as não-palavras!
Que já estou sem norte
Sem sorte, amazorrada
Socorro!
Já não ouço nada

Socorro!
Não encontro mais palavras!
Nem saber, pensar, dizer
Não vai dar mais pra contar,
Só sentir.

Só sentir.

sábado, 1 de setembro de 2007

Como eu ia dizendo...

Eu cheguei aqui por engano.
No meu planeta há grupos de seres que marcam algum dia pra trocar de papel. Construtores que vão trabalhar na feira, cozinheiros que vão traficar chicletes alucinógenos, enfim...
Eu participava, era bem divertido, aprendi várias coisas inúteis, como preparar duendes grelhados ou ajustar a freqüência de mini-teletransportadores.
Mas era complicado, antes do tal dia tínhamos que esclarecer várias coisas, pra não estragar a vida do outro. E mesmo assim sempre dava alguma coisa errada.
Certa vez, depois de um dia desses, minha "substituta" me ligou do meu bar predileto. Estava se divertido com meus amigos, tomando a minha bebida preferida, comendo minhas pastilhas preferidas. E disse que isso era bom, porque assim eu teria meu meio de volta, quando voltasse da expedição.
"Que expedição??" - Perguntei, assustada.
"Ué, eu te avisei: 'nesse dia vamos pra Terra'"
"Eu tinha entendido 'nesse dia vamos pra guerra'!"
- Por mim estava tudo bem, eu jogaria uma partida de buraco com o inimigo e pronto. Não sou tão boa, mas sempre tive vontade de ir pra guerra.
"Não, não... É pra Terra, mesmo. Um planeta no braço de Órion da Via Láctea"
"Ãhn?"
Eu não sabia nada de geografia espacial...
Aí ela começou a explicar... Fiquei com raiva, nessa hora: Só aí soube que estava vindo pra um planetinha sem pastilhas sabor sorvete de mankce.

Mas, bem, tirando isso, achei que poderia ser legal, pra me conformar. Me senti até importante, como pesquisadora espacial, essas coisas.

Chegando aqui fiquei maravilhada com algumas coisas, consternada com outras... "Puxa, esses humanozinhos são mesmo criativos!", pensei, feliz, a princípio.
Mas o que mais me surpreendeu foi o RPG.
Interpretar papéis sem o risco de ter que pesquisar sobre a vida, o universo e tudo o mais num planetinha miserável sem pastilhas sabor sorvete de mankce!?

Como ninguém lá no meu planeta pensou nisso antes?


[Numa conversa com o Sr. Ornitorrinco eu contei minha triste história e acabei recebendo um meme por ela. (Céus! A história ficou ruim, mas não era pra tanto!) Mas, enfim, acabei também sendo aliciada a postar no blog. Palavras dele: "eu acho que vc devia postar [...] faça isso como teste, e avalie a reação das pessoas [...] É questão de usar a estupidez e total falta de gosto (destruído por anos de programação ruim da TV) do seu público."]