segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Aulas e gentes


Tanta coisa que eu não sabia por onde começar.
Essa é a parte boa e também a parte ruim de escrever sem planejamento: A gente pode dizer muita coisa sem querer dizer nada.
O que me é, apesar de vazio e não-gratificante, bastante confortável.
Ademais, isso me ajuda a não ter que repetir a 10 pessoas as mesmas histórias. Dizendo aqui coisas genéricas, nos e-mails que vexativamente ainda não enviei posso dizer coisas particulares.
Então agora um pouco sobre as aulas e as gentes – outro dia, outras coisas.
Meu francês está melhor, bem aos pouquinhos. Conheci umas pessoas com quem falo por escrito, pela internet, usando o corretor ortográfico. Isso é realmente bom para aprender a escrever.
O treino nas aulas também é essencial. Infelizmente não consigo levar o computador pra aula (porque a bateria não dura 5 min fora da tomada), então escrevo no papel. É um triplo esforço: entender o que o professor diz, decidir do que tomar nota, e, por fim, tentar escrever sem qualquer corretor. Rs. Um exercício de verdade, que faço numa aula às quartas, o dia inteiro na quinta e na sexta das 8h às 16h, com alguns intervalos. É incrível reparar a diferença de compreensão da língua de uma semana pra outra. Gratificante! No mais, comecei os esportes na semana passada, daí segunda e terça é só felicidade, natação, dança e escalada – as pessoas da escalada são o grupo de pessoas mais simpático que encontrei até agora, é bem divertido.
Essa semana pensei que os franceses realmente estudassem muito. Fiquei acordada até 4h fazendo um trabalho, faltei à primeira aula do dia seguinte, e quando fui entregá-lo, a professora me disse: « mas você já entregou semana passada, e foi bem. Eu não terei tempo de corrigir todos, então só corrigirei um por aluno. Mas, bom, se vc quiser fazer todos, tanto melhor ».
Claro que não fico acordada até 4h fazendo um trabalho que não é obrigatório. Claro.
Também tive uma prova de francês, mas bem mais curta do que eu imaginava. Não é fácil, porque o demora pra gente se acostumar com as regras de uma nova gramática, mas também não é assustador. Dá pra encarar.
Então, com suas dificuldades tudo segue bem, estou feliz com a língua e as aulas.
Os colegas de classe, ainda não os conheço direito. Faço uma matéria em cada ano, é um pouco difícil ficar amiga das pessoas vendo-as uma vez por semana, no entra e sai das aulas.
Conheci mais estrangeiros, pessoas legais que tem também a impressão de que a maior parte dos franceses não gostam muito da gente. Mas não é culpa deles, eles também não tem muita oportunidade: você balança um árvore e caem 15 estrangeiros, por que você acharia que eles são mais interessantes que os franceses? Daí as pessoas na faculdade até são simpáticas, mas só na medida do necessário. Tem os moços bonitos que se sentem a última bolacha do pacote, também, que são um estereotipo francês bem curioso.
Minha irmã me perguntou se não era chato isso, de estar sozinha com a indiferença dos franceses.
Eu brinquei com ela dizendo que estou acostumada. Talvez eu sempre tenha tido que lidar com essa espécie de solidão e sempre tenha me divertido comigo mesma, com o que vejo, penso, sinto.
Mas mesmo assim, hoje as coisas são um pouco melhores, por causa dos amigos que encontrei.
Os últimos 5 anos foram muito ricos. Conheci bastante gente, estive bastante sozinha, tive que me defender muitas vezes e me questionar muitas outras. Aprendi a fazer amigos, aprendi que tenho muita coisa legal a oferecer, também. Encontrei o apoio e a companhia de gente que hoje me é muito cara, gente que se sentia tão deslocada quanto eu, na faculdade, na vida. E eles viraram meus amigos. A gente nunca sabe quantos amigos terão ficado, daqui 5 anos. Mas acho que o apoio que eles nos deram dura pra sempre, mesmo num mundo de muitas pessoas indiferentes.
Saber que eles existem me lembra que tem muita gente no mundo entre as quais eu posso me sentir bem. Me lembra que gente é muito bom.
E aí a gente renova o ânimos pra ir conhecendo mais gente, passeando com uns, outros, fazendo amigos de novo. Agora em francês! rs.


PS1:
Vale a pena dizer da minha confusão no começo. Cheguei numa aula e o professor dizia de um filósofo alemão muito conhecido. Algo como "ôgól". E eu encafifada: quem é esse sujeito? como assim nem nunca ouvi falar num filósofo alemão muito conhecido? Nosso departamento na USP tem essas falhas assim, tão absurdas? - dez minutos depois me dei conta de que eles falavam do realmente famoso Hegel (aí no Brasil a gente fala "rêguel", tentando se aproximar do alemão. O que acho justo, porque, como disse um ilustre professor daí: "é nessas que francis bacon vira chico toucinho!")

PS2:
Ia postar aqui o telefone e endereço, mas acho melhor mandar individualmente, já enviei a quem me lembro ter me pedido. Quem ainda quiser, peça. Até logo!