Eu nasci em Teresópolis, a quatro de abril de 1991. Fazia frio, e caía uma garoa insistente. Não sei se foi bem assim, mas se não foi, deveria ter sido.
Minha primeira noite de sono nesse mundo atordoante foi no colo de meu pai, também dormindo, naquelas camas estreitas de hospital.
Fui crescendo muito mimada e querida, como uma criança pequena com três irmãos mais velhos costuma ser.
Lembro de quando minha irmã ouvia Claudinho e Buchecha e eu ora estava do lado dela, ora estava do lado de meus irmãos, que nutriam ódio mortal por aquilo.
Lembro de traduzir para o resto da família o que meu irmão pequeno dizia.
E lembro até hoje da noite em que, logo depois deu saber ler, um de meus irmãos pegou um livro de RPG e começou a me ensinar a jogar aventura solo, de tanto eu pedir para jogar como "fantasminha" (café com leite) no grupo deles.
Lembro de sentar na biblioteca da casa de meus avós e ir tirando os livrinhos infantis para ler compulsivamente.
Em 2001 nos mudamos para uma outra pequena cidade.
Considero que junto com móveis e roupas mudei de conceitos e idéias.
A menina curiosa e metida ficou.
Aquela sagaz e deveras convicta deu lugar a uma outra, a uma insegura e contraditória. Deu lugar a essa garota que, apesar de por vezes se ver execrável, no fundo se acha ainda melhor que os outros, e se sente ainda pior por isso.
Deu lugar a uma menina que esses dias percebeu que viveu muito pouco.
Percebeu que, por mais coisas que consiga se lembrar, por mais conceitos que consiga reunir, por mais coisas que consiga fazer ou livros que consiga ler, essa menina percebeu que viveu muito pouco.
E ficou atordoada.
Andando pela casa, em passo rápido, procurando um contra-argumento convincente (não houve!) ou apenas tentando fazer o tempo passar mais rápido.
Ela pensava ser a vida algo simples (por que não?) mas de repente achou que precisava viver mais. Achou que vivera muito pouco para achar qualquer coisa.
Aí a pobre deitou e ficou pensando no que seria num futro talvez inexistente.
Então dormiu.
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