segunda-feira, 21 de agosto de 2006

"A ditadura do outro"

Por Maria Bertoche e Rodrigo Kháos, com contribuições do acaso e da melancolia, e uma saudação a Brás Cubas, pelo menos por minha parte. Isso é um trecho sem edições de uma conversa à distância.

...

Maria diz:

Mas não sobrou aí amor-próprio? Algo que grite: "Rodrigo, você é aproveitável! Rodrigo, você é bom!"?

Rodrigo Kháos diz:

No fundo eu acho que sim, mas o grito estaria mais próximo de: "Rodrigo, você é bom, mas não passa de um tolo".

Maria diz:

Hahahahaha

Maria diz:

O meu seria algo como: "Maria, você não passa de uma tola, mas ainda é útil" com um sussurro de "eu acho" ao final

Rodrigo Kháos diz:

Hahahahaha, e poderíamos completar com aquele gesto das mãos espalmadas, algo querendo dizer: "sei lá!"

Maria diz:

E o que fazer, Rodrigo, o que fazer?

Rodrigo Kháos diz:

A pergunta que nunca descansa é justamente essa: é como se uma esfinge se levantasse todo dia diante de um Édipo medroso (nós) e ameaçasse: "Decifra-me ou te devoro!"

Maria diz:

Não podemos viver ignorando isso

Maria diz:

Como declarar que sabemos? Pra quem?

Rodrigo Kháos diz:

Tentamos saber através dos outros quem somos, o quanto somos aceitáveis, "apreciiáveis", úteis, O Outro é quem parece validar a nossa existência, isso não te parece terrível?

Maria diz:

Isso é terrivel

Maria diz:

terrível

Maria diz:

Incrivelmente terrível

Rodrigo Kháos diz:

Eu chamo isso de "A Ditadura do Outro"

Maria diz:

Rodrigo, eu não quero!

Maria diz:

Eu quero apreciar os outros, não depender da apreciação deles... Não há essa opção???

Rodrigo Kháos diz:

Até que há, mas esse "apreciar os outros" nunca deixa de ser "interferir", por pouco que seja. Apreciar é moeda de troca, Maria. Mas, o que não me entra na cabeça, apreciar já não dá pista de uma dependência profunda?

Rodrigo Kháos diz:

"Ver para ser visto"

Maria diz:

O problema não é apreciar, definitivamente. É esperar reciprocidade

Rodrigo Kháos diz:

É!

Maria diz:

Se pudesse separar isso, ah, se pudesse!

Rodrigo Kháos diz:

No final das contas, tudo é troca e, se nada recebemos de volta, frequentemente nos sentimos lesados, até mesmo roubados descaradamente daquela "apreciação oferecida"

Maria diz:

Eu sei, eu sei..

Maria diz:

Mas queria não esperar isso

Maria diz:

Não considerar "apreciar o outro" como um favor...

Rodrigo Kháos diz:

Favor, talvez não seja bem isso. Apreciar como uma das muitas formas de depender...

Rodrigo Kháos diz:

Tem um trecho da Clarice ("Olhar é o necessário instrumento que, depois de usado, jogarei fora")

Rodrigo Kháos diz:

Hmmm... jogar fora porque já temos a (errônea) certeza de que o resultado, a reciprocidade, virá como 2 + 2

Maria diz:

Isso é tão deprimente

Rodrigo Kháos diz:

Sim, a reciprocidade pode vir, mas às vezes naquela superfície do "é, sei, entendi", que vc quis dizer antes

Rodrigo Kháos diz:

E isso é tão doloroso!

Rodrigo Kháos diz:

É assim com a grande maioria

Maria diz:

Sinto não poder acrescentar mais nada de novo

Maria diz:

Mas seria bom se pudéssemos ao menos retribuir a atenção que nos dão.

...

Meus cumprimentos, e um sorriso,
Maria.

...
PS1
Coloco especialmente esse trecho aqui porque além de eu estar sem nada escrever há um tempo, isso me foi uma divagação valiosa. Sem deixar de lado minhas outras nobres companhias MSNicas, é claro. Muitas outras conversas mereceram apreciação pública, também. O caso é que só me ocorreu que essa idéia fosse boa hoje, e, unida a uma boa oportunidade, ela está aí, já em prática.

PS2 Grata, Rodrigo, foi um prazer encontrar-te de novo.

PS3 Comigo está tudo bem. Uma esperança feliz e um projeto pra colocar em prática.Quando ele sair do campo das idéias o transcrevo.

quarta-feira, 9 de agosto de 2006

Recortes de uma vidinha (quase) monótona

Ando muito distraída, preocupada, tensa, ou qualquer coisa parecida.

A solução vai ser passar um tempo mais reclusa, imagino. Não por revolta, nem nada impetuoso. Só porque tenho que reservar um tempo pra ler, ouvir música, escrever cartas, monologar com meus personagens, que talvez sejam a principal causa de minha irritação - não estamos nos entendendo direito, preciso dar mais atenção a eles.
Além do mais tenho que colocar as idéias em dia, me conformar com algumas coisas, esquematizar soluções pra outras e bolar alguma idéia mirabolante ou um plano infalível pra acabar com a Mônica... Ou pra conquistar o mundo, também serve.

Das duas uma: ou esfriarei novamente minha participação aqui, ou ela se intensificará. Aliás, assim com a Internet em geral.

Fiz um bolo, que por íncrivel que pareça, está com uma cara agradável.
Vou à biblioteca amanhã. Ia à do Sesc, mas a municipal deve servir, por enquanto. Faz tempo que não vou lá, até. Muito tempo.


Vejamos... Ainda esse mês sai a lista de aprovados no concurso de redação pra Iniciação Científica Júnior. Os desinfelizes certamente imaginaram que seria muito pesado pro orçamento do estado e ainda diminuíram 20% do valor da bolsa. Agora é 80 reais. Mas, tá valendo, tá valendo.

Só hoje vi que preciso de R$ 34,80, fora os gastos com necessidades antigas. Alguém quiser me doar, sem problemas. Daí vinte são pra um CD com o Dreamweaver e o Photoshop (aliás, podendo sugerir outra opção pra adquirir esses programas, fico grata), e catorze e ointenta pra aquisição de duas revistas, "Filosofia" e "Discutindo Filosofia", mais urgência pra primeira. Mesma coisa neste caso: se alguém quiser comprar, procurar o conteúdo na internet, escanear, xerocar ou mesmo copiar com garranchos horríveis e me dar, eu deixo. =)

No mais, cansada dessa vidinha (quase) monótona - e de ler sobre o ciclo de Calvin pra prova de Biologia amanhã. Preciso mesmo das revistas. (O CD fica pra depois, oras)

Por último, explico o porquê desse post-diarinho (mas só porque estou muito benevolente, hoje). O caso é que sempre me desoriento em meus propósitos. Dessa vez ficam salvos, e, qualquer problema nas resoluções(amnésia!?), volto aqui e aprumo a situação, aproveitando que já sintetizei as soluções, coisa que é bem rara, por ser complicada.

Sem mais,

Maria.

domingo, 6 de agosto de 2006

Saudade de viajar

Saudade de viajar.
Viajar de carro, à noite.
Saudade de Teresópolis.
Da noite da estrada. Do vazio, das luzezinhas vermelhas que ficavam por um tempo na frente do carro, das brancas que ofuscavam a vista, mesmo estando a uma distância considerável.
Saudade da calmaria da noite.
Saudade de ver o mato na beira da estrada, balançando como se pedisse pra ir com os carros que passavam. Saudade de ver as nuvens prateadas pelo brilho da Lua. E de ver as estrelas borrifando aquele céu escuro com brilhos suaves e audaciosos, bonitos mesmo.
Saudade do vento agradável, do frio agudo e do cheiro extasiante de noite que entravam no carro quando meu pai abria a janela.
De quando parávamos no pedágio e todo mundo acordava com as luzes fortes. E da perspectiva de chegar. Das apostas do horário em que chegaríamos.
Saudade de ver o sol nascer. Das plantações de cana, abacaxi e laranja que têm ao longo da estrada. Dos arco-íris que gostavam de aparecer quando estavam todos quietos. De ficar com medo sempre que íamos descer a Serra das Araras.
Saudade das músicas que escolhemos juntos. De ficar com um ombro doendo por estar apoiando a cabeça de um irmão sonolento. E de dormir no ombro deles, também.

Saudade de viajar, mesmo.

quarta-feira, 2 de agosto de 2006

"Eu diria mais, eu diria: olá! olá!"

“Por que publicar o que não presta? Porque o que presta também não presta. Além
do mais, o que obviamente não presta sempre me interessou muito. Gosto de um
modo carinhoso do inacabado, do malfeito, daquilo que desajeitadamente tenta um
pequeno vôo e cai sem graça no chão”.

Clarice Lispector

Bem, já que até a Clarice dizia que gostava de seus textos que "não prestam"...

O caso é que voltarei a escrever, e sem ficar deprimida. Já planejei isso outras vezes, mas a diferença é que dessa eu vou conseguir, mesmo, de verdade. Ninguém precisa, nem nunca precisou, ler minhas divagações. Elas ficarão aqui, guardadas. Esse não é o fim, ainda.

Bem, a idéia e aprimorar minha escrita. O ponto principal é ser mais clara. Sem economizar palavras nem usá-las de enfeite. A tentativa agora é ser objetiva sem necessariamente acabar com a graça da confusão.

Lembrei-me de um artigo de um técnico da computação, falando do KISS. "Keep it simple, stupid"!

Falando nisso, acho que não vou conseguir sobreviver mais aqui daqui uns cinco anos. Eu já sou uma das poucas pessoas que não sabe absolutamente nada de HTML. Aliás, nem de Inglês eu tenho noção. Isso é comprometedor. E me assusta.